Manual Prático

de

Treinamento

de

Parapente

 

 

 

 


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Transformar cidadãos comuns
em pilotos de parapente
não é exatamente a
tarefa mais fácil...

Conduzi-los a se tornar
melhores pilotos
do que nós mesmos,
parece quase impossível,
assustadoramente distante...

...porém ao alcance de sua vontade, caro instrutor.

Sivuca


Introdução

Sensibilizado com as dificuldades encontradas pelos instrutores no dia a dia do processo de aprendizado dos seus alunos, apresento aqui uma proposta Didática e Metodológica que poderia facilmente tornar-se uma ferramenta de trabalho muito útil para o instrutor de parapente. Não tenho a pretensão de afirmar que este método é mais ou menos eficiente que este ou aquele outro e muito menos de impor sua utilização. De fato, a decisão de encontrar maneiras de aproveitar o que esse e todos os outros materiais disponíveis em nosso meio podem lhe proporcionar de útil e construtivo, depende exclusivamente de você, instrutor.

De fato, meu incentivo é para você duvidar sempre. Procurar provas, garantias, evidências. Nunca se dê por satisfeito diante da primeira solução que alguém lhe oferecer para um problema, especialmente se isso acontecer de forma gratuita; escutei uma vez que se é grátis, é porque ninguém quer.

Por outro lado, não há dúvida de que uma curiosidade insatisfeita funciona como combustível para o cientista, e é a base fundamental do processo criativo, as raízes da genialidade. Aliás, diferente do fundamentalista, a alegria do cientista é ser refutado, negado. Isso significa que (finalmente) alguém mais se preocupou com aquele assunto, o estudou e encontrou dados que possam retificar o que foi dito, afinal o cientista está em busca de apenas uma coisa: a verdade.

 


Sendo assim, através desta proposta, trago à luz da realidade, um sonho antigo, o desejo de trazer para os instrutores, uma coleção de sugestões de exercícios práticos úteis para o treinamento de parapente, todos perfeitamente realizáveis. São exercícios que rodaram no miolo de uma metodologia de trabalho que durante os vários anos na minha experiência como instrutor, mostraram resultados comprovados e bastante satisfatórios. Pude observar isto tanto na velocidade e eficiência do aprendizado, quanto na difícil tarefa de proporcionar divertimento e envolvimento aos alunos nessa fase tão delicada que é o treinamento básico. Isso é um fator chave, afinal sem diversão, a coisa dificilmente produz resultados positivos. Estes exercícios não nasceram da noite para o dia ou durante uma cerveja pós pouso, eles são frutos de uma evolução gradual que partiu de uma reflexão básica: “Como realizar isto?”.

Percebi que além de ajudar as pessoas a finalmente realizarem “isto” a ferramenta auxiliou na composição do processo de internalização da segurança de voo, já que a compreensão de um movimento incentiva sua internalização, o que implica em responsabilização.

Na sequência, percebi que ao executar os exercícios junto com os colegas, houve uma melhora sensível na conscientização do valor do aspecto de coletividade do esporte, o que também contribuiu para uma atenção dirigida ao respeito pela natureza e pela própria pessoa humana. São ideias que podem de uma forma ou de outra, serem aproveitadas por qualquer instrutor e adaptadas a qualquer realidade.

Vou além. Constatei também que o instrutor realmente eficiente será capaz de garantir não só a formação segura de seus alunos, mas também o progresso e o crescimento de sua escola como empresa. Da mesma forma, ele poderá também garantir a fundamentação daquilo que eu chamo de Cultura Desportiva e que é capaz de impulsionar um verdadeiro crescimento de nosso esporte como saudável, bela e barata maneira de voar, afinal os grandes pilotos de amanhã são seus aprendizes de hoje.

A escola tem em suas mãos a massa bruta, metaforicamente, os diamantes a serem lapidados para trazer brilho ao esporte. Cabe ao instrutor criar um caminho para este aprendizado, um caminho de respeito pelo próximo, por si mesmo como piloto e pessoa humana, pela natureza e a condição que nos cerca, pelo universo de nossos equipamentos e como um todo, pelo nosso esporte.

Alguns exercícios poderão se encaixar como uma luva nas condições que seu local de treinamento oferece, ao mesmo tempo em que outros poderão se mostrar inviáveis da forma como foram idealizados.

Convido você a analisa-los detalhadamente, estudando-os, interpretando-os e executando-os de forma a internalizar cada um deles. Faça modificações, adapte-os a realidade de seu universo de voo, use sua criatividade, use sua capacidade em se adaptar a novas situações, improvise, inove!

cena2.jpgEmbora tenhamos habilidade técnica e conhecimento teórico (as vezes de sobra) de nosso esporte, se olharmos bem atentamente, percebemos que muitas vezes estes ingredientes se revelam insuficientes e até mesmo pouco relevantes na eficácia do processo instrucional como um todo.

Podemos sentir dificuldade em manter os alunos agregados e obedientes a nossa metodologia. Somos atingidos em cheio pela evasão de nossos alunos antes que eles tenham condições de assinar como verdadeiros pilotos.

Muitas vezes podemos nos sentir mal compreendidos e discriminados no meio social do parapente, e vistos como exploradores ou mercenários, outras vezes, até irresponsáveis.

cena1.jpgPode ser que repetidas vezes nossos alunos se mostrem cansados e entediados com o treinamento, mas ao mesmo tempo ficamos sem saber como fazer para atrair sua atenção. Eles parecem se interessar mais por equipamentos e seus dados técnicos do que pelo processo de aprendizado. Eles parecem olhar para o curso como um obstáculo a ser transposto e não como uma fase tão apaixonante e agradável quanto o voo propriamente dito. De fato, até mesmo nós instrutores, parecemos olhar para nosso trabalho com olhos igualmente desanimados, olhos cansados de um cenário que se repete e parece drenar nossa disposição física e mental.

Dificuldades como estas e muitas outras, não são exclusivas deste ou daquele instrutor. Talvez alguns de nós tenha se tornado instrutor quase que pela coincidência do destino, ou talvez alguns de nós não tenhamos tido a oportunidade ou mesma a ideia de adquirir algum tipo de formação específica na área educacional, mas certamente estamos todos plenamente conscientes de que ensinar é algo como uma arte, sem deixar de ser, é claro, uma ciência que pode ser aprendida e aplicada eficientemente através de métodos concretos, especialmente levando em conta que estamos falando de métodos que já se mostraram eficientes no passado.

É portanto, possível tornar nosso trabalho mais interessante e agradável para nós e é claro, para nossos alunos. Não há dúvida que um dia a dia alegre, descontraído e com claros resultados positivos encoraja tanto o instrutor quanto o aluno a dedicar-se cada vez mais, cada vez com mais dedicação e prazer.

Aprender a voar torna-se um objetivo consideravelmente distante quando levamos em conta que o aprendizado motor do parapente associado à efetiva compreensão de todo o universo de variáveis em que o esporte está mergulhado, faz parte inadiável do caminho a ser percorrido. Podemos concluir então, que o instrutor que se posiciona de maneira pura e simples como a galinha dos conhecimentos de ouro que coloca a comida nos esfomeados bicos abertos de seus alunos, dificilmente obterá sucesso de seu trabalho. Ele terminará se transformando em uma espécie de monumento, cimentado no alto de um inalcançável pedestal. Claro, ele poderá ainda continuar a ser admirado pela sua invejável capacidade em realizar manobras, ou alcançar quilômetros impressionantes com seu parapente, porém a maior parte deles, uma improvável quimera de realização por parte de seus simples e mortais alunos.

Isso pode alimentar alguns egos por algum tempo, mas fato é que, quem necessita desse tipo de alimento para o ego, está seriamente fadado ao fracasso. Desvia desse caminho, pois além de não te ajudar, ele pode ainda levar seu aluno até destinos indesejáveis! No mínimo ele se afastará da escola em busca das opiniões imprecisas e pouco didáticas dos colegas que orbitam na rampa enquanto você mergulha num poço de ostracismo e descrédito. Seus alunos irão embora e sim, no próximo erro de interpretação irão se acidentar complicando ainda mais a vida de todo mundo. É nessa hora que será muito dolorido e difícil entender e aceitar que o que aconteceu foi nossa responsabilidade, pois a realidade não é que seu aluno foi embora, mas sim que você foi incapaz de mantê-lo por perto.

Então existe uma inegável necessidade de manter seus alunos a uma distância menor da escola, especialmente durante a fase inicial, quando as pessoas são extremamente voláteis e influenciáveis pelo meio. Seria perfeito se seus alunos centralizassem em você, toda sua busca por informações e aprendizado, não é mesmo?

Mas cuidado! Este pensamento pode também ser perigoso se for interpretado de maneira binária, pois alguns instrutores irão seguir por um caminho centralizador e paternalista, absorvendo toda responsabilidade por qualquer ação ou decisão de seus alunos, como se fosse pais superprotetores. Lembra-se daquela mãe que é incapaz de observar seu filho pequeno se levantar de um pequeno tombo sem correr para ajudá-lo? A aparente realização de mãe/pai torna-se na realidade um pesado fardo de medo e incerteza. Não se trata então apenas de responsabilizar-se, mas sim criar meios de orientar seu aluno a desenvolver responsabilidade.

O que eles farão? Conseguirão decolar? Conseguirão pousar? Conseguirão enfrentar turbulência? São estas as perguntas que ecoam na cabeça destes instrutores que invariavelmente estão em um constante estado de sofrimento, podendo até mesmo ficar doentes.

Não interprete a expressão "voador de final de tarde” como uma crítica negativa aos que sentem prazer em simplesmente decolar para o prazer do vento no rosto ao final de um longo dia.
O esporte tem lugar e paixão em qualquer uma de suas muitas manifestações. Ao mesmo tempo, muitos pilotos desejam imensamente percorrer os universos mais incertos, mas encontram-se amarrados ao regato de seu amado mestre-pai, podados pelos medos e dogmas que ele lhes transmite e reforça todos os dias.
Por que transmitir nossos medos aos alunos? Será que desejamos encarcerar nossa cria em nossa bolha de vergonha? O medo é inteiramente humano. A mãe que grita aterrorizada ao ver uma barata, transmite o mesmo terror a seus filhos que verão nas baratas, um ser ameaçador, capaz de tirar da linha alguém tão digno de confiança quanto sua própria mãe. Lembre-se que quando você instrui, tudo o que você faz, sente ou pensa, produz consequências, especialmente aquilo que você faz.

Por outro lado, seus alunos não conseguem evoluir por pura falta de atitude, afinal seu instrutor decide tudo por eles. Alguns se sentem identificados com isto, assim é a personalidade humana. Sentem muito carinho por seus mestres e terminam mais dedicados a teoria do que ao voo de verdade virando seres pregados a mediocridade de suas rampas para eternos voos de final de tarde. Muitos se tornam pilotos de grupo de whatsapp.

Encontrar um meio termo entre um instrutor descompromissado e um centralizador é uma tarefa que começa no simples ato de olhar para si mesmo em busca deste indicador. A partir do momento em que você consegue situar sua personalidade atuante, você pode iniciar o processo de ajustes e correções a fim de atingir aquele meio termo saudável e progressista que estamos buscando.

Claro, você tem bastante habilidade, acha muito fácil inflar, controlar, enrolar térmicas, fazer loopings e tumblings... não é assim? Desculpe, talvez então você ache tudo isso muito difícil e assustador, talvez você prefira só um lift de final de tarde de vez em quando e de preferência sem ganhar muita altura. Talvez você seja um competidor de primeira linha, ou talvez você odeie competições. Talvez você ache o esporte inacreditavelmente perigoso, ou talvez você ache que parapente é uma das coisas mais seguras que alguém pode fazer na vida.

Enfim, você, Fulano da Silva Tal, é uma pessoa com seus anseios, medos, desejos, opiniões e decisões e isto não significa que tudo isso que você sente a respeito do esporte traduza o esporte em si.

É essencial que você internalize o que é o esporte como um todo, passando por seus perigos, vantagens, desvantagens, facilidades, definições, limitações e assim por diante. Isso é importantíssimo porque é assim que você irá descrever o esporte para seus alunos e candidatos a alunos. Sendo assim, você pode achar o parapente superseguro para você, mas isso não faz com que o esporte seja seguro. Parapente é muito perigoso sim e quem cometer erros, correrá sérios riscos, podendo facilmente destruir sua própria vida, a vida de sua família e até mesmo a sua vida de instrutor.

Robbie Whittall dizia: “Parapente é esperar, esperar e esperar”. Com esta frase ele deixava claro para qualquer um que a ansiedade é um dos mais perigosos defeitos que um piloto pode ter. Uma enorme parcela de acidentes aconteceu motivada por falta de capacidade de controlar a ansiedade. Mostre para seus alunos como isso é importante e o quanto eles serão cobrados pela necessidade de ter paciência em nosso esporte.

Então, seja honesto e não tenha medo de “assustar” os alunos quando lhes revelar os perigos de nosso esporte. Ninguém gosta de ficar sabendo das desvantagens e dos perigos depois que já gastou um bom dinheiro para aprender um esporte que não tinha compreendido direito.

O briefing de abertura do curso deve ser extremamente sincero e honesto, englobando não apenas as maravilhas de nosso esporte, mas também as limitações e riscos que lhes são inerentes. Seus alunos irão lhe agradecer esta sinceridade mais tarde, sem sombra de dúvida.

Um dia olho uma revista, e vejo a foto de uma goiabeira; então fico com desejo de comer goiabada, noutro dia, olho o anúncio de um aeromodelo e fico com desejo de aprender a pilotar um aviãozinho, no dia seguinte, vejo um ator famoso com um relógio bacana e logo depois estou fazendo uma pesquisa no Google a respeito daquele relógio ou de outros parecidos. Estes são nossos desejos imediatos, que podemos chamar de desejos de primeiro nível. São pequenas vontades geradas em sua maioria, por influências externas, como a mídia, por exemplo e que pela sua simplicidade, não encontra dificuldade em ser realizadas na maioria das vezes.

Muita gente pensa que se estes desejos são atendidos, uma pessoa pode considerar-se realizada. Será que é mesmo assim?

Será então que uma pessoa muito rica, capaz de realizar todos seus "desejos" comprando tudo o que vê pela frente será no final uma pessoa feliz? O que é felicidade então?

Sem conjeturar a filosofia por trás de ser feliz, realizado ou não, vamos adiante com o que nos interessa. Se você está interessado nesse tema, não se furte em pesquisar mais profundamente.


Ensinar nossos alunos a voar e se possível, com alguma qualidade, não é somente uma responsabilidade nossa, é também o motivo de anunciarmos nosso curso por aí.

Aprenda a voar!

É o que dizem os folders e cartazes desde que o parapente se tornou um esporte e algumas pessoas perceberam que poderiam realizar-se como instrutores.

O pensamento corporativo motiva o crescimento da escola como empresa, e então, acontecem mais alunos que compram mais equipamentos e todos ficam felizes.

A fórmula é simples, mas sua elaboração é complexa. Tenha em mente um fator básico: a partir do instante que metas são determinadas, toda uma rede de esforços pode ser orientada naquela direção. Então desejar de verdade o crescimento da escola já é um grande passo para a realização de seus planos.

Pensar corporativamente tem a ver com vislumbrar o amanhã, com o planejamento de curto, médio e longo prazo. Não se pode embarcar em uma atividade tal qual administrar uma escola, mantendo-nos fechados em nós mesmos, reduzidos exclusivamente aos meandros de nossa individualidade egocêntrica, é preciso olhar em volta e imaginar tudo aquilo fazendo parte de uma crescente. Expandir-se para fora de si mesmo como indivíduo até onde o coletivo pode ser visível é decisivo para o sucesso na construção de uma corporação.

Se o esporte se torna mais popular e respeitado, mais pessoas irão desejar aprender a voar e nossa escola terá mais sucesso.

Mais uma fórmula simples, com uma elaboração igualmente complexa. Como fazer o esporte crescer se estamos ocupados demais com uma série de detalhes relacionados ao dia a dia de nossos alunos?

 

Imagine a oportunidade de fazer sua escola acontecer como uma laranja apetitosa. Você pode cortar aquela laranja ao meio e começar a espremê-la. O suco será delicioso, mas pouco a pouco ele vai rareando... você pode continuar espremendo e então o suco vai ficando cada vez mais amargo, afinal agora só sobrou... o bagaço.

Agora imagine que sua escola faz parte de algo maior que uma laranja, que tal... um pé de laranja? Agora podemos espremer cada laranja aproveitando o melhor e por um bom tempo teremos mais laranjas. É claro que se não adubarmos este pé, não ficarmos atentos às pragas e às variações climáticas, cedo ou tarde as laranjas terminarão também e seu pé de laranja ficará uma coisinha seca no meio do deserto. Há muito para se fazer para manter um bom pé de laranja, por isso é uma boa ideia contar com a ajuda de mais pessoas, onde cada um poderá ficar encarregado de uma tarefa diferente.

Implantar uma cultura desportiva significa ativar indivíduos que darão seu máximo para garantir a realização de nosso maior sonho: Um esporte delicioso, eternizado, vibrante, respeitado e em constante expansão, como um grande laranjal.

Promover comportamentos éticos, estratégicos, inteligentes e úteis lembrando que sua escola faz parte de algo muito maior que uma simples laranja é a chave da implementação da cultura desportiva e numa relação mútua, essa é base do sucesso de seu curso, de sua escola e do esporte como um todo. Assim, a escola que vive exclusivamente para botar o povo para voar (a formação técnica), dificilmente conseguirá contribuir seriamente para o crescimento do esporte e não conseguirá chegar a um verdadeiro crescimento. Sua tendência será o inevitável desaparecimento, como num ciclo que termina definhando tristemente assim como o bagaço da laranja.

A implantação da cultura desportiva é um processo homeopático, onde para cada palavra, cada ensinamento, cada orientação; há na intenção do instrutor, o desejo de construir algo que vai muito além daquilo que lhe foi solicitado. Há o desejo de construir um sólido caminho que facilitará e embelezará a vida do novo piloto.

Concentre-se em equipamentos nível A que atendem a todos os estilos de pilotos e são os mais seguros. Não há sentido algum em permitir que seu aluno corra riscos desnecessários para satisfazer a egos mais eufóricos. Se um acidente ocorrer com um parapente intermediário, você será diretamente culpado, pense nisso, vale o risco?

Perceba que um parapente em más condições termina tornando o processo de aprendizado mais complexo e frustrante, além de significar uma frota heterogênea, o que sempre complica a vida do instrutor. Prefira sempre renovar a frota, oferecendo os parapentes utilizados no curso com um desconto para os alunos participantes. Desta forma você estará sempre atualizado e o custo de novos equipamentos dilui-se rapidamente.

Introdução

Embora pareça ser importante, não é objetivo desta literatura abordar as técnicas de marketing que você deverá ou não utilizar ao convencer pessoas a aprender a voar em sua escola.

Entretanto há algo que é essencial: Seja transparente, não venda um esporte utópico e 100% seguro. Quanto mais honesto e claro você for, mais afiada será a faca que separará os indivíduos ideais, futuros pilotos que garantirão a continuidade de nosso esporte, daqueles que estão apenas de passagem, colecionando hobbies e ocupações para suas vidas monótonas. Existe uma frase que ilustra esse pensamento e que diz: “O esporte é para todos, mas nem todos estão para o esporte”.

Itens essenciais para o início das atividades:

Aproveite para recomendar a todos que providenciem, além daqueles itens como água ou isotônicos, protetor solar, roupas adequadas ao treinamento (uma velha calça jeans é sempre bem-vinda), óculos escuros e alimentos ricos em carboidratos como frutas, barras de cereais e até um chocolate:

Equipamentos em boas condições, como parapente nível A e selete adequada ao aprendizado e capacete.

Prepare um quadro de cerca de 30x40cm forrado com fórmica branca e uma caneta especial para esta finalidade. Ele será de grande importância para apresentação de rápidos desenhos que facilitarão a compreensão de vários pontos teóricos durante o treinamento. Aliás, será que você consegue fazer alguns desenhos simples para representar coisas básicas como sustentação, inércia, movimentos pendulares, atração gravitacional, arrasto... você precisará ter muita certeza de que seus alunos realmente compreendem estes conceitos, lembra-se?

Talvez você consiga um pequeno parapente em miniatura, de preferência, com alguma flexibilidade na asa. Um simples chapéu com alça pode desempenhar este papel. Você poderá utiliza-lo para simular vários movimentos facilitando bastante sua compreensão.

Sua criatividade é seu guia, há uma infinidade de objetos que você pode utilizar para ilustrar suas ideias.

Você também pode providenciar algumas bandeirolas, (aproveite para imprimir nelas o nome ou logomarca de sua escola). Elas serão muito úteis nos exercícios de slalom, pilões, gol. Faixas como aquelas utilizadas para demarcar quadras de esportes ajudarão a criar zonas de controle de solo e “pistas de decolagem” que simularão as limitações das rampas que oferecem pouco espaço. Afinal se o voo é livre, deve haver um motivo para estarmos sempre nos acotovelando, não é?

Uma barraca ou algum tipo de cobertura para garantir um pouco de sombra também é uma boa ideia, já que não queremos que todos queiram fugir pro hotel na melhor hora do dia.

Também poderíamos levar uma geladeira de isopor com isotônicos que você poderá vender a preço de custo para causar uma boa impressão... Não se esqueça dos agregados como namorada(o)s, esposas, maridos e filhos que costumam aparecer... isso não é problema seu? Então aproveite para revisar alguns conceitos... conquiste a equipe de apoio agora ou ela poderá se virar contra você no futuro... próximo...


Abordamos aqui uma série de tópicos que consideramos indispensáveis para serem abordados com seus alunos. É uma conversa de primeira aula, descompromissada e descontraída. Aproveite esta oportunidade para começar a conhecer seus alunos, indagando suas profissões, atividades que lhes dão prazer e os motivos de terem vindo procurar o parapente. É nessa hora que você começa a se certificar de que realmente aquele aluno está interessado em aprender a voar e não apenas atendendo a algum tipo de pressão social, lembra-se? 

cena9.jpgSobre o universo de possibilidades

Apresente e valorize as diferentes possibilidades que nosso esporte proporciona, desde a prática ocasional que traz momentos de imenso prazer num simples prego no final de uma linda tarde, até as competições onde os pilotos se colocam à prova a cada segundo durante as mais complicadas condições. Fale sobre a beleza do mundo da acrobacia, as fantásticas conquistas do Cross Country com suas centenas de quilômetros esperando para serem percorridos. Culmine a conversa com as incríveis possibilidades de integração entre o esporte e a natureza que o voo Bivaque* (bivouac)[1] pode proporcionar.

Fale sobre o contato com as diferentes culturas, a possibilidade de observar o mundo de um ângulo inédito, o entendimento e o domínio das correntes ascendentes, os movimentos das massas de ar tanto em grande quanto em pequena escala. Fale sobre o aprendizado técnico necessário para pilotar habilmente nossa fantástica máquina invertebrada.

Recorde a evolução do esporte, desde os tempos dos paraquedistas de montanha lá pelos anos 80 até o design atual.

Mencione o perfil da maioria dos pilotos, e sobre seu posicionamento diante das cobranças sociais por equipamentos mais perigosos ou conquistas mais avançadas.

Lembre-os da organização do esporte, os grupos, clubes e associações, os novos amigos e até mesmo o risco de se conhecer inimigos e ter de lidar com eles com sobriedade e humildade.

Enalteça o convívio social, respeito pela natureza, o carinho pelas plantas e animais, a devoção ao ser humano, a importância de ajudar os outros pilotos e amigo.

Recorde desafios, acidentes e tragédias com seriedade e sinceridade.

Divague sobre o infinito que é nosso esporte, transmita seu amor, sua paixão e sua loucura diante de cada dia de voo. Essa é sua deixa, sua oportunidade de arrepiar seus novos alunos, de alterar seus batimentos cardíacos a cada frase.

Sobre os perigos:

O parapente é um esporte muito perigoso e que necessita de um alto nível de atenção, paciência, organização e meticulosidade para ser praticado.

A maior parte dos acidentes acontece por desrespeito a uma destas regras básicas.

Não tenha medo de mostrar os perigos do parapente. Se alguém desistiu de aprender a voar depois que descobriu que o esporte era perigoso, uma vitória foi atingida. São alunos, mas também são adultos. É preferível alguém que perceba nesta hora que o esporte não é para ele, do que mais tarde correr riscos desnecessários apresentando uma ameaça para si mesmo, para sua escola e para o esporte. O feed back do instrutor é decisivo nesse momento crucial e aquele que for realmente sério e compromissado com o esporte saberá filtrar riscos potenciais sem sentimento de culpa.

Sobre a frequência:

O nível de envolvimento deve ser alto. Especialmente durante a fase de aprendizado motor inicial, é altamente desaconselhável que o aluno fique distante mais de uma semana do treinamento. Se o aluno fica mais de uma semana sem treino, aquilo que foi aprendido na aula anterior se perde, gastando tempo útil com recapitulações, dificultando e desencorajando o processo de aprendizado. Exija um aluno frequente. Você está contando tudo isso para ele? Ótima ideia! Aluno que se envolve com o processo de aprendizado dá força ao processo de responsabilização.

Sobre o foco do aprendizado

Muitas formas de trabalho diferentes entre si derivam diretamente de diferentes focos de aprendizado. Assim, na época em que o voo de parapente nos remetia quase que exclusivamente ao voo propriamente dito, isto é, o momento em que o piloto está pendurado no ar conduzindo sua aeronave, os cursos resumiam-se a produzir esta situação o maior número de vezes que fosse possível. Assim, todos iam para o topo do morrinho, decolavam e pousavam o dia todo sem parar.

Atualmente os parapentes são mais fáceis de inflar e voam muito. A simples inflada e decolagens do morrote ou morrinho produz mais riscos que benefícios ao mesmo tempo em que produz bons resultados como um prêmio ao final de um suado dia de trabalho, no máximo com duas repetições, pois a terceira, motivada pelo cansaço da subida aumentará drasticamente o risco de acidentes.

Inflar, controlar e antecipar o comportamento e as reações do parapente é a parte mais difícil, é por isso que é aqui que devemos focalizar o treinamento. A decolagem é um momento muito crítico, onde a maior quantidade de acidentes acontece. Sabemos que a estabilidade dos parapentes atuais, associada ao respeito pelas regras e procedimentos de voo no que diz respeito a horário, intensidade de vento, local de prática, presença de outros pilotos, além da condição físico-psicológica do piloto irão produzir voos pouco preocupantes. Já na decolagem, tudo pode acontecer e é aí que os perigos precisam de vacina. As escolas mais modernas concentram seu treinamento no controle de solo a fim de afastar o aluno dos problemas mais comuns o máximo que for possível. É aí que deve estar nosso foco, garanta um treino de solo de qualidade e todo o resto virá quase como consequência.

É claro que o treinamento engloba decolagem, voo e pouso e cada um destes pequenos universos deverá ter sua devida ênfase e as baterias de exercícios que tornarão a atividade divertida e desafiante.

Sobre voo duplo na instrução:

Muitas escolas utilizam o parapente duplo como ferramenta no treinamento do aprendizado de seus alunos. Algumas, como um complemento ao método, com intuito de auxiliar na perda de medos transmitindo a sensação mais próxima da realidade nas experiências de aproximação e pouso, principalmente. Outras escolas concentram o curso quase em sua íntegra no voo duplo.

Não há dúvida de que o voo duplo pode ser uma ferramenta fantástica e pode sim ser extremamente útil no aprendizado.

Sobre treinamento rebocado:

Acho válido o uso do reboque para aprendizes desde que observadas todas as normas de segurança pertinentes.

Não podemos nos esquecer que voar é fácil, o difícil é controlar o parapente. Então, assim como no voo duplo, os voos rebocados não substituem o treinamento de solo. É aí que deve ser colocada a ênfase, é aí que deve o instrutor se concentrar através do largo uso de exercícios práticos.

Fazer as primeiras aproximações e pousos, desenvolver a noção de distanciamento do relevo, iniciar a percepção de planeio e tridimensionalidade e fazer experiências com movimentos pendulares são algumas das possibilidades que o treinamento com parapente duplo nos oferece de forma interessantíssima. No voo duplo, o contato entre aluno e instrutor é incomparável e um bom instrutor conseguirá perceber um aluno assustado ou estressado durante o voo, onde dificilmente conseguiria perceber de outra forma.

Pessoalmente utilizei largamente o voo duplo durante os treinos por muitos anos. Entretanto, acho importante que fique claro, que o parapente duplo não é essencial e talvez não seja a melhor das ideias substituir o treinamento no plano/plano inclinado. O desenvolvimento da habilidade de controle de solo, especialmente se associada a exercícios técnicos de movimento no solo pode, se realizado com alto nível de qualidade, dispensar completamente o aluno da necessidade de voos duplos. Lembre-se que o momento mais crítico do voo é inquestionavelmente, a decolagem e é justamente aí que o voo duplo falhará, já que a decolagem do duplo está a uma distância considerável daquela praticada no voo solo. Basicamente o instrutor é quem executa a decolagem e não apenas do ponto de vista de controle da vela, mas da ergonomia geral relacionada ao posicionamento de tirantes, barras e o conjunto como um todo, tudo na decolagem do voo duplo é bem diferente da decolagem solo.

O instrutor não deve então, enxergar o voo duplo como ferramenta substituta do treinamento no plano/plano inclinado. Mas sem dúvida pode valer-se desta fantástica oportunidade como ferramenta complementar ao seu treinamento, ferramenta esta que trará qualidade ao seu curso.

Sobre o Fundamento Teórico do Método:

O homem tripartido aqui abordado deriva de um conceito da antroposofia, doutrina filosófica criada por Rudolf Steiner em que se baseia a pedagogia Waldorf, segundo a qual, as três faculdades de querer (agir), pensar e sentir, fazem parte da totalidade do ser humano que aprende a realizar uma tarefa.

Se você se sente atraído por conjeturas relacionadas, me parece que uma banqueta de três pernas tem mais chances de permanecer em pé do que com apenas duas ou com apenas uma perna... parece claro que o número três pode ser interpretado como uma base da estabilidade em muitos departamentos, veja por exemplo a construção de um acorde musical. São três as notas necessárias para que ele aconteça, poderíamos ir adiante com uma centena de outras ideias derivadas, mas por hora, podemos assumir que se temos uma tríade... está tudo bem.

O homem tripartido

Antes de pensarmos em alunos, é preciso pensarmos em seres humanos, dotados de características privilegiadas que nos torna únicos diante de todas as outras espécies de animais até onde é de nosso conhecimento, somos capazes de pensar, de refletir a respeito de uma informação que chega até nós e construir um pensamento a seu respeito. Este pensamento passa pela simples compreensão do assunto até a construção de estratégias de ação e antecipação do futuro.

Então quando você para diante do espelho, consegue imediatamente enxergar seu corpo. Nosso corpo é uma máquina de agir, nós nos alimentamos, nos fortalecemos e gastamos a energia produzida em grande parte com nossas ações. Também gastamos nossa energia com nossos pensamentos e esta é a segunda coisa mais importante de nosso ser. Somos capazes de pensar e olhar para nosso corpo no espelho e nos reconhecer como sendo nós mesmos, afinal nosso corpo é nossa identidade. Então, enquanto lá parado olhando-se no espelho, entra uma brisa pela janela e você sente um friozinho, lá fora no quintal, o cachorro da vizinha dá um latido e você escuta uma freada brusca. Naquele momento, os pelos de seu braço se eriçam... será que alguém foi atropelado ou quase? Seja bem-vindo, você acaba de fazer contato, de certa forma, com suas emoções ou ao menos, parte delas.

Agir, pensar e sentir

Então estamos aqui, diante uma tríade: Corpo, mente e emoção. Se transformarmos isso em verbos, teremos: AGIR, PENSAR e SENTIR.

Todas as atividades humanas englobam um pouco destas três coisas e se formos capazes de entrar em contato com cada uma delas, seremos também capazes de absorver o funcionamento de qualquer outra atividade.

Então, se você infla seu parapente, você entra em contato com a técnica utilizada, com tudo o que você conjeturou e analisou a respeito da condição ao seu redor e uma série de outras coisas e também entrou em contato com as sensações que estão direta ou indiretamente relacionadas com tudo aquilo, como por exemplo, a força do vento em seu rosto, a tensão dos tirantes em suas mãos, as irregularidades do piso em seus pés e até mesmo os olhos atentos das pessoas que o estão observando.

Então, talvez você discorde, afinal discordar é preciso, não é mesmo? Mas mesmo assim, eu aposto que qualquer atividade que você apresente a seus alunos, terá sempre sua qualidade e eficiência drasticamente aumentadas se você conseguir abordar estes três aspectos em suas explicações. Então, como acabamos de conversar acima, quando você infla seu parapente, existe não apenas o aspecto de como AGIR, isto é, executar aquela tarefa que é puxando os tirantes e recuando o corpo num impulso, mas também PENSAR, ou seja, considerar o vento e aproveitar o momento que ele entra, bem como observar a inclinação da rampa, além de entender por que o parapente se comporta daquela forma e por que sua ação provoca aquele resultado, assim como entrar em contato com todas as sensações que fazem parte daquele micro universo, ou seja, SENTIR.

Pense nisso quando disser para seu aluno como ele deve executar determinada tarefa: Estou abordando os três aspectos de agir, pensar e sentir? Então está tudo bem, muito provavelmente ficará bem mais fácil para ele conseguir realizar aquilo que a tarefa objetiva.


O Trinômio: Piloto, Condição e Equipamento.

Pegando carona na tríade anterior, podemos refletir um pouco a respeito da construção das ideias para ajudar nossos alunos na inadiável tarefa de compreender e organizar a nova aventura. São noções que devem ser enfaticamente divididas com os alunos como os itens da receita de um bolo primordial.

cena10.jpgO fundamento do método baseia-se na divisão do universo do voo em microuniversos independentes e menos complexos. O nível de dificuldade para o estudo dos microuniversos sempre será menor especialmente se houver uma relação direta entre suas "estrelas" e "planetas". Desta forma, o aprendizado acontecerá através do estudo independente de diferentes microuniversos para que posteriormente, tudo se integre ao universo final como os ingredientes do nosso bolo.

Se compararmos com a mecânica de motocicletas, apenas como exemplo, teremos o estudo do motor e de todas suas peças e partes pertinentes bem como seus conceitos e objetos determinantes. Da mesma forma estudaremos em separado as regras de trânsito e os procedimentos para conduzir a motocicleta pelas ruas, assim como abordaremos as roupas e equipamentos necessários como capacete, luvas, etc. Ao final, juntamos todos os conhecimentos em um universo chamado "Motocicleta".

Estude o método atentamente, entenda-o detalhadamente e absorva-o integralmente para finalmente dividi-lo com seus alunos. Lembre-se que você só transmite de verdade, aquele conceito no qual você acredita. Esta frase pode parecer relativamente óbvia, porém é muito comum deparar-se com pessoas trabalhando com algo que não acreditam. Os resultados raramente passam do limite da mediocridade.

Mostre para os alunos que o parapente é um universo bastante complexo e cheio de variáveis que precisam ser estudadas. Dividindo este universo nos três itens primordiais citados, criamos três distintos veículos de entendimento que facilitarão enormemente o processo de aprendizado reduzindo a possibilidade de esquecimentos e reduzindo o nível de acidentes. Para cada um dos veículos, haverá sempre uma análise específica. Assim, tudo o que for relacionado à condição, por exemplo, será sempre analisado independentemente dos outros itens e assim consecutivamente até que o trinômio esteja completo.

Sobre os Exercícios - Conceitos Fundamentais:

Os conceitos que seguem são fundamentais para a aplicação do método. A base pode ser ilustrada com a frase:

Ensine seus alunos a pensar para que assim eles aprendam sozinhos a voar.

Você está criando um caminho para a compreensão dos porquês do parapente, mas não pode carregar os alunos por este caminho, isto tem de partir deles.

A essência do aprendizado está no fator RESPONSABILIZAÇÃO. Isto significa que a pessoa se responsabiliza por aquilo que está dentro de seus limites de compreensão analítica. Então, nossa tarefa como instrutores é abrir uma brecha que será preenchida com estes conhecimentos. Esta brecha é aberta através do ato de pensar, refletir e concluir. Isto é muito diferente e infinitamente mais eficiente que apenas escutar e executar. Lembre-se que dificilmente se obtém uma planta quando apenas atiramos as sementes ao solo, se você cavar um buraco, uma brecha nesse solo e atirar a semente dentro, os resultados serão melhores.

Pensar, Refletir e Concluir    escutar e executar

É o professor que pavimenta um caminho para que o aluno possa caminhar por ele, lembra da estradinha de tijolos amarelos que Dorothy tinha de seguir para chegar a Oz? Ela começava no coração (a emoção) e levava Dorothy até a Cidade das Esmeraldas de Oz.

O instrutor então cria condições favoráveis para que o aluno processe um pensamento, uma ideia e consiga chegar a uma conclusão cognitiva. Lidar com essa ideia garante a entrada em um novo degrau de conhecimento, um novo nível de consciência que vai além da simples ideia de percepção, pois para chegar lá foi preciso processar aquele pensamento lidando com suas causas e efeitos e não apenas seguir uma ordem. É a fundamentação analítica baseada num input de ideias que leva à síntese. Em resumo, só quem processa e conclui um tema, o domina. Para os crentes, aprender a voar não é decorar o Pai-Nosso, é encontrar-se com o Criador.

Objetivos finais e objetivos intermediários

#participaçãoSim

Não deixe de dividir estas ideias com seus alunos, pedindo sua opinião e questionando sobre os resultados possíveis. Peça sugestões sempre que possível. Naturalmente o instrutor experiente já conhece os resultados práticos de cada exercício, por outro lado, o envolvimento dos alunos com as etapas do processo de aprendizado desperta e incentiva um interesse maior pela metodologia. Quando você pede a opinião, você mostra que está realmente interessado na participação ativa do aluno. Instrutor que não pede opinião me lembra aquele velho professor de história que entrava na sala, enchia a lousa de infindáveis textos, virava as costas e ia embora.

Podemos olhar para o voo como a Cidade das Esmeraldas de Oz, ou seja, o objetivo final de nossa aventura, mas como toda aventura, existem diferentes etapas a serem atingidas e o êxito nos exercícios representa o cumprimento de objetivos/metas intermediárias. Como Dorothy que passa por cada uma das etapas, a soma dos objetivos intermediários cumpridos com sucesso conduzirá o aluno até a conclusão do objetivo final. Incentive o aluno a dirigir sua atenção para o cumprimento exemplar de cada exercício concentrando-se exclusivamente naquele momento único representado pelo objetivo intermediário. Durante a execução dos exercícios, não adianta muito ficar pensando no voo, já que cada exercício demanda energia e atenção específica.

Material para acompanhamento

Apresente os exercícios através de material impresso a ser distribuído para cada aluno. Este material deverá servir de acompanhamento e também para anotações individuais que os alunos ficarão livres para fazer.

Sobre as condições mínimas

Chegou a hora de “dizer algumas verdades” para seus alunos. Brincadeiras à parte, é necessário que algumas metas mínimas sejam estabelecidas para que possamos considerar cada aluno apto a iniciar seus primeiros voos com alguma garantia de segurança. Chegou então a hora de reuni-los para conversar e estabelecer algumas dessas metas/condições. Apresente cada uma das metas discutindo-as separadamente. Cada uma tem um motivo que precisa ser debatido e internalizado. Essa é a “matéria da prova” e você precisa se certificar de que todos estão alinhados com o cumprimento destas metas.


As condições mínimas:

1.       Inflada correta e neutralização perfeita do velame.

2.       Habilidade de controle em solo por no mínimo 10 segundos.

3.       Controle de estol impecável.

4.       Corrida de decolagem perfeita com postura olímpica.

5.       Tomada de rota sem erros.

6.       Aproximação correta e pouso sem crash com procedimento de pouso completo (vela neutralizada com estol e piloto de frente para vela).

Notas e o interesse pelo desempenho do colega

Numa primeira análise, a individualidade de cada um gerencia a velocidade e a eficiência do aprendizado e sem dúvida haverão alunos mais ou menos hábeis do que outros. Conseguir que isto seja discutido e analisado entre eles é uma vitória no sentido de que além de desenvolver a empatia do grupo, essa “exposição” funciona como um elemento de descontração e intimidade no grupo. É importante que você tenha habilidade em identificar os casos delicados, pois não há dúvida que para algumas pessoas, falar sobre si mesmo é um processo que vai do muito delicado ao proibido.

Você pode estabelecer um sistema de avaliação a fim de que os alunos possam concorrer a uma espécie de aprovação ao final do treino. Isto pode acontecer ao final de todas as aulas com um exercício de controle de solo que vai evoluindo com o treinamento. Os próprios alunos podem se dar notas e discutir a respeito do rendimento de cada um. É muito importante envolver o grupo com o treinamento como um todo, assim todos se ajudam e invariavelmente auxiliam você no papel de instrutor. Não tenha medo, ninguém vai sair dando aula no seu lugar, ao menos não tão cedo.

Dificilmente você será questionado diante de um programa bem elaborado e largamente discutido com os alunos, afinal como protestar se minha opinião foi requisitada?

Sobre regras de conduta

Este é o delicado momento em que você apresenta a seus alunos as regras básicas da escola, regras estas cuja transgressão pode significar o desligamento do curso. Procure ser muito claro e honesto a respeito de tudo, lembrando que estas serão as regras que estarão previstas no contrato que será assinado pelo aluno ao término do primeiro encontro antes de iniciar o treinamento prático.

cena11.jpgEntão, detalhadamente enumerado:

I.       Condições de devolução de dinheiro,

II.       Faltas,

III.       Casos de expulsão,

IV.       Desistência,

V.       Problemas de insubordinação,

VI.       Regras de segurança,

VII.       Interrupções e

VIII.       Outros,

Todos estes itens e outros que você puder se lembrar, devem ser cuidadosamente abordados, inclusive sugiro que você consulte o corpo jurídico da ABP a fim de obter auxílio nessa parte.

De qualquer forma, não existe momento melhor para falar sobre assuntos “desagradáveis”, quando eles são apenas uma possibilidade no final do túnel. Então discuta tudo antecipadamente, não deixe nada para a última hora.

Registro de imagens em voo

A difícil relação entre o piloto e as câmeras. Sim, fotografar e filmar pode ser legal para observar o comportamento durante manobras, ou para registrar a imensidão daquela paisagem, mas o foco nas filmagens, a preocupação com o resultado das imagens e toda a parafernália de suportes para capacetes, pau de selfie, gimbals e derivados, corre sério risco de servir como elemento registrador da última atividade na terra. Desencoraje o uso excessivo de tecnologia em qualquer tempo, especialmente quando a experiência ainda não gerou habilidade intuitiva suficiente.

Seus alunos já assinaram o contrato, você já entregou o material impresso e eles já estudaram em casa o que será feito na aula. Chegou a hora de experimentar tudo isso na prática.

Piloto:

Aproveite o início da aula para fazer alongamentos e exercícios respiratórios. Exercícios que demandam equilíbrio também são bastante bem vindos. Fale sobre a necessidade de corpo e mente em condições tranquilas para fazer um voo com segurança. Algumas pessoas tentam utilizar o voo como fuga de problemas domésticos, ressalte os perigos da falta de concentração e do uso de drogas e álcool. Não tenha medo de contar sobre acidentes causados por desrespeito a este fator.

Comente sobre a necessidade de observar os outros pilotos, como estão se comportando na rampa. Qual será o nível de dificuldade média que estão encontrando ao decolar e ao voar?

Lembre-os a respeito do tráfego aéreo e os fatores que aumentam o nível de estresse do piloto, como por exemplo, câmeras e parentes presentes na rampa.

Reforce a necessidade de respeitar a postura do corpo nas mais variadas situações. Todos os movimentos partem de um correto posicionamento postural para que possam ser executados com perfeição. Compreender que o postural estático está à frente do movimento dinâmico na ordem cronológica é compreender a verdadeira importância da postura como agente garantidor dos movimentos coordenados.

Fale sobre a importância de não conversar enquanto se prepara o equipamento, aproveite o Dica para dizer que não há nada de ofensivo em pedir educadamente para uma pessoa se afastar enquanto ele prepara seu equipamento para decolagem.

Condição:

Detenha-se na análise da condição. Velocidade e direção do vento são itens básicos. Os alunos devem ser incentivados a perceber e quantificar a força do vento no rosto. Apresente métodos de medição do vento, como o dedo molhado, a biruta e até mesmo um pedaço de papel higiênico. Mostre para os alunos que existe uma condição ideal para que o voo aconteça e que na medida em que esta condição piora, as possibilidades do voo acontecer irão se reduzir até que este seja cancelado. Pergunte aos alunos sobre sua opinião de quais seriam as condições limitadoras, seja com relação a velocidade ou direção do vento.

Teoria na prática:

Aproveite para introduzir breves ideias a respeito da origem do vento, pincelando os movimentos do ar que parte da alta pressão (locais mais frios) em direção à baixa pressão (locais mais quentes). Lembra da cortina do chuveiro que gruda nas canelas quando alguém abre a porta do banheiro?

Rotores, influência dos obstáculos nos movimentos das massas de ar também pode ser abordados, com exemplos práticos sempre que possível. Experimente curtir a paz da beira de um riacho e aproveitar para admirar tanto a poesia quanto a teoria dos rotores gerados pela água passando sobre pedras.

 

Explique que é muito comum um piloto deslocar-se até uma rampa longínqua e não fazer uma decolagem sequer devido a problemas relacionados à condição aerológica do local.

Equipamento:

Mostre o velame apresentando suas partes principais, não se detenha a jargões técnicos, é mais importante saber detectar uma linha puída ou se um paraquedas

Encoraje o humano.

Percebi bons resultados ao desaconselhar a compra de variômetro para os iniciantes. Notei que os equipamentos eletrônicos facilmente se tornam muletas que terminam atrapalhando na absorção das sensações do parapente, pois o piloto tende a colar sua atenção no display ou no bip. O bom piloto se presenteará com um variômetro somente quando verdadeiras conquistas forem atingidas, como por exemplo, dois voos de no mínimo 20km. O mesmo para GPS, que só deverá ser adquirido quando realmente necessário.

É uma tarefa difícil, especialmente nestes tempos em que a tecnologia nos é empurrada goela abaixo com tanta facilidade, tentar redirecionar a atenção dos alunos para os elementos abstratos do desenvolvimento técnico e motor do voo. Alguns acreditam que basta um bom variômetro para ser capaz de enrolar uma termal, assim como basta um velame B para se permitir aos primeiros voos XC. Sabemos que isso é uma ilusão distópica e uma energia preciosa é gasta com o materialismo concreto do mundo dos equipamentos. Essas ideias devem partir de você e garanto que a tarefa não é fácil.

de emergência pode cair da selete do que saber o nome exato de cada tipo de tecido do velame ou quais são as provas de homologação.

Apresente a selete e fale sobre o paraquedas de emergência e o capacete.

Se for indagado sobre instrumentos, detenha-se ao essencial.

Fale sobre os agentes que desgastam o equipamento e sobre cuidados. Muita gente só pensa em comprar algo levando em conta quando irá ganhar na hora de vender. Lembre o aluno que o parapente é um bem pouco durável e que ele está pagando não apenas pelo equipamento, mas pelo prazer de voar e aproveitar do equipamento mais adequado a suas características pessoais ao máximo. Desaconselhe a excessiva preocupação com comércio de equipamentos e especialmente a troca constante de equipamentos[2]. Um piloto saudável compra seu velame, voa muitos anos com ele, envia-o anualmente para uma revisão e termina vendendo-o por um preço justo ou mesmo aposentando-o definitivamente.

Mostre o correto posicionamento do velame em solo a fim de garantir uma boa Inflada.

Oriente os alunos para adotar padronização sempre. Isso é crucial para a segurança, pois é justamente na banalidade de certos momentos que está a possibilidade de se esquecer de itens fundamentais. O telefone celular, por exemplo, não poderá desviar a atenção de nossos alunos durante o treinamento assim como não pode desviar a atenção de quem está dirigindo, não é mesmo?

1.       

Antecipando-se às sensações:

Muitas vezes eu disse aos alunos: “Fique atento, você provavelmente irá passar por uma sensação de frio na barriga, isso é o que o movimento pendular irá provocar”. O feed back foi fantástico, os alunos ficaram felizes em passar por uma “surpresa cantada”, narrando-me a emoção de sentir “exatamente” o que eu havia previamente descrito.

Isso tem uma relação estreita com a capacidade de imaginar como o aluno se sente. Ora, movimentos pendulares fazem parte de nossas vidas faz muito tempo, provavelmente não damos a menor atenção para eles, mas para quem nunca passou por aquela experiência, tudo é uma novidade e se foi previamente abordado, o fator medo perde força.

Dedique-se a recordar as sensações que fazem parte do voo e cuide de descreve-las cuidadosamente para seus alunos no momento oportuno, eles ficarão gratos e felizes em poder dizer: “Meu professor me contou que isso ia acontecer”...

 

Afastar-se da zona de decolagem para retirar o parapente da sacola.

2.       Colocar velame no chão em posição de decolagem.

3.       Checar linhas.

4.       Conectar selete.

5.       Guardar sacola na selete.

6.       Vestir selete conectando os tirantes das pernas e da tira abdominal na mesma sequência.

7.       Colocar capacete.

8.       Dirigir-se ao local de decolagem.

9.       Reposicionar o velame.

10.       Checar tudo novamente.

 

Os exercícios

Explique cada detalhe do exercício deixando claros os motivos de cada um.

Execute você mesmo o exercício para que os alunos possam observa-lo. Chame atenção para as possíveis dificuldades que eles irão encontrar.

Comece mostrando a postura do corpo fora da selete, peça para que os alunos o imitem. Em seguida vista a selete e execute os movimentos posturais novamente.

A postura é um item absolutamente essencial. Você deve mostrar a seus alunos que todos os exercícios possuem uma execução Olímpica, isto é, uma técnica postural que deve ser cuidadosamente treinada. Uma postura primorosamente correta é a base de todos os movimentos.

Aproveite para chamar a atenção para pontos críticos e dificuldades mais comuns que eles irão encontrar pela frente em cada um dos exercícios. Sempre que o instrutor apresenta fatos futuros, ele contribui para aumentar sua credibilidade, especialmente quando aquilo acontecer mais tarde. Lembre-se que o instrutor está altamente

Teoria na prática:

Aproveite e fale um pouco sobre o perfil aerodinâmico e sustentação.

Quando comparamos a perda de sustentação da asa com o esqui aquático ou o surf, a visualização torna-se mais fácil, já que a água é um fluido visível.

Utilize o miniquadro branco para esquematize desenhos que facilitação a compreensão.

Seu mini parapente também será bastante útil nesta hora. Prepare seu modelo com asas flexíveis.

 

interessado em aumentar ao máximo sua credibilidade perante os alunos.

Procure observar cada movimento do aluno e conversar com ele somente após uma sequência. Evite interromper a execução de um exercício, mesmo que este não esteja sendo corretamente executado. Faça-o somente se a execução em andamento representar risco para a segurança do aluno. Não misture risco para a segurança com falta de praticidade.

cena8.jpgApós a execução, converse diretamente com o aluno a fim de que ele faça uma análise geral, para só então você emitir sua opinião. Lembre-se: primeiro o aluno fala e você apenas escuta, só depois é que você fala para ele escutar, assim simples.

Atenção:

Nunca infle o parapente sem estar conectado a selete. Não existe uma real necessidade prática para isto. A checagem do velame deve ser feita com as mãos e finalmente confirmada após a conexão.

Lembre-se que as atitudes do instrutor são observáveis nos alunos da mesma forma que um filho possui os olhos da mãe e o nariz do pai. Fique atento a suas atitudes diante de seus alunos. O velho ditado “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço” já provou que não funciona há muito tempo nos esportes de alto risco.

 

Aproveite a oportunidade para transformar a execução dos exercícios em pequenas competições entre os alunos. Utilize as bandeiras para criação de gols e pilões para que os alunos desenvolvam maior interesse no exercício. Desta forma você contribui para tornar os exercícios mais divertidos melhorando o rendimento.

Não se contente com a resposta afirmativa à pergunta: “Vocês entenderam? ”. Sempre cobre do seu aluno, um detalhamento daquilo que ele está prestes a executar. Muitas vezes o aluno diz que entendeu, mas não é capaz de verbalizar o exercício, e pode não ser capaz de realiza-lo. Você deve se certificar sempre de que ele compreendeu sua “missão”. Isto se aplica a toda a vida do aluno, desde os primeiros exercícios, passando pelos seus primeiros voos e até grandes aventuras aéreas.

C:\Users\sivuk\AppData\Local\Microsoft\Windows\INetCache\Content.Word\cena 14.jpgAntes de falar sobre as técnicas de inflada, é importante levar um pequeno detalhe em consideração: Este manual destina-se a toda sorte de instrutor, escola, local e situação que podemos encontrar em nosso país. Em muitos lugares, a inflada alpina será tão injustificável quanto a inflada reversa poderá ser em outros. Então, procure sempre adaptar estas ideias a sua realidade, mas sempre levando em conta que você pretende preparar seus alunos para literalmente “baterem as asas e sair voando por aí”... Esforce-se para não limitar o que você ensina exclusivamente ao microuniverso onde está sua escola.

DIREITA! ESQUERDAAA!

Evite usar imperativos como "Faça assim, faça assado!"; prefira convidar seu aluno através de um "Tenho a impressão de que você obteria melhores resultados se fizesse assim...", ou "perceba que seu parapente parece insistir em cair para trás, você não acha que lhe falta velocidade?", ou ainda "Veja seu colega, o que você acha que ele fez de errado?". Ao invés de “DIREITA”, que tal: “Respeite a rota, siga em direção ao objetivo. .

 

 

 

 

Expanda-se! Abra-se! Liberte-se das amarras! Suba a serra! Vá até a praia, para as areias, para as dunas, para a lama, a grama e o cimento, vá para o interior, para o exterior, vá para o ulterior, o superior e o inferior!!

O parapente é feito para o planeta Terra e não apenas para o quilômetro quadrado de sua rampa.

·       Posição dos comandos. Verificar a maneira mais fácil de encontrar os batoques e tirantes.

·       Postura – corpo inclinado para frente, fazer peso para baixo e não para frente.

·       Braços esticados. Apenas os pulsos podem dobrar.

·       Pernas flexionadas

·       Tração nos tirantes

·       Velocidade e impulso.

Após o primeiro contato, mostrar claramente o motivo de manter os braços para trás mencionando a deformação do perfil e explicar que as pessoas tendem a puxar os tirantes com os braços deformando o perfil do parapente.

Inflada Reversa:

A Inflada Reversa passou por uma evolução bastante baseada em empirismo puro, mas mais que isso, eram técnicas resultantes da forma mais simples e eficiente de inflar o parapente construído com a tecnologia que então estava sendo utilizada. As primeiras técnicas utilizavam ambos os braços cruzados, cada um segurando um tirante. Esta técnica tem duas importantes desvantagens: a) não existe forma de se atuar em qualquer dos batoques durante a Inflada. b) uma eventual falta de sincronia entre os braços atrapalha o bordo de ataque. Esta desvantagem é ainda mais evidente quando se utiliza os braços sem cruzar, já que fica ainda mais difícil manter os tirantes alinhados sem ter nenhum ganho com a possibilidade de frear o velame.

Atualmente, a maioria das escolas já está familiarizada com a técnica que consiste em utilizar a mão direita para segurar ambos os tirantes A enquanto os freios permanecem nas mãos correspondentes. Basta induzirmos o velame a levantar o lado cuja mão está livre para frear (normalmente a esquerda) através de um conveniente posicionamento de solo e o problema está praticamente resolvido.

A técnica:

·       De costas para o velame, segurando ambos os freios nas mãos correspondentes, use a mão direita para pegar todos os tirantes do lado direito escorregando-os pela mão até alcançar as linhas. Jogue por cima da cabeça enquanto vira de frente para o velame.

·       Agora observe os tirantes. Pegue com as mãos correspondentes, (direito-direito, esquerdo-esquerdo), ambos os batoques sempre por cima, ou seja, uma vez que os tirantes estarão caídos à frente do piloto, os batoques estarão sempre na parte de cima. Junte com a mão direita, ambos os tirantes A enquanto a mão esquerda, apenas com o batoque esquerdo permanece aguardando ao lado do corpo. A mão direita tem também o batoque do lado direito em seu poder.

·       Respeite a postura – pernas flexionadas colocando peso para baixo. Não dobre o braço. Mostre aos alunos que o velame tende a deformar se você o fizer e induza-os a explicar o motivo.

Nesta fase, use a inflada Reversa apenas para tirar a vela do chão. A ênfase é para o controle em linha reta. O piloto puxa a vela, inflando-a e a observa cair suavemente. Experimente nesta fase, fazer a vela cair oferecendo resistência com o corpo e também caminhando em direção à vela, peça para que os alunos apontem a diferença e os motivos.

Quando utilizamos a divisão Piloto - Condição - Equipamento, não estamos criando nenhuma grande novidade. Isto é uma desconstrução; um universo complexo de variáveis, é organizado através de sua divisão em conjuntos pertinentes. Cada conjunto tem todos os itens relacionados a ele e é estudado separadamente. Desta forma, facilita a compreensão, a memorização e a organização. Imagine um check-list de decolagem com todos seus elementos. A partir da divisão em três elementos básicos, fica muito mais simples abordar todos os itens sem correr o risco de deixar passar algo como o paraquedas de emergência ou o fato do piloto ter tido uma noite mal dormida ou o a suspeita do vento ser um falso frontal.

Você não é obrigado a usar a divisão exatamente desta forma, nem em número de três, pode criar a sua. Piloto-Condição-Equipamento é só uma sugestão que já deu certo no passado e continua dando certo hoje com um monte de gente.

C:\Users\sivuk\AppData\Local\Microsoft\Windows\INetCache\Content.Word\cena4.jpgApós apresentação do exercício e treino postural sem e com selete e conexão com o parapente, o aluno realiza o exercício livremente sem nenhum input do instrutor até que finalmente o parapente esteja no chão. Agora é hora de indagar o aluno em busca de analisar as sensações que foram experimentadas. Finalmente o instrutor passa seu ponto de vista que servirá de base para as correções.

Nos exercícios com curvas, lembre-se de evitar cantar a instrução "direita" ou "esquerda". Limite-se a dizer que o aluno está indo na direção errada para que ele determine por si a direção correta a seguir. Precisamos contribuir ativamente para a construção dessas habilidades que serão essenciais para o voo seguro mais tarde. Afinal o aluno não é um aeromodelo rádio controlado, ele é uma pessoa. Alguns instrutores sentem-se desconfortáveis com isso, alegando responsabilidade, mas lembre-se que estamos construindo um processo de responsabilização que só funciona através de indução prática, é por isso que ele começa desde os primeiros movimentos que acontecem em um cenário pretensamente mais seguro. Isto é essencial para o sucesso da metodologia.

cena13.jpgAinda sobre a estrutura da construção do pensamento cognitivo, suponha que seu aluno está conduzindo a vela no solo, mas anda lento demais e a vela termina caindo. Assista a cena em silêncio para enfim indagar o aluno perguntando se ele percebeu o que aconteceu, quando foi que a vela caiu e qual foi o motivo dela ter caído. Apenas escute-o sem dizer qual foi o erro. Essa é a hora de você induzi-lo a finalmente dizer "eu não corri o suficiente"; mas esta análise deve partir do aluno mesmo que você tenha de dar algumas pistas. Suponha que ele não conseguiu compreender o que houve e não consegue verbalizar. Ainda não é hora de contar o que aconteceu, mas sim de propor que ele refaça o exercício andando mais rápido dessa vez a fim de comparar os resultados. A esta altura, o aluno já deverá ter condições de chegar à conclusão que estava andando lento demais, mas é ele quem tem de chegar a conclusão e não você.

Enquanto o aluno está executando o exercício, você observa enquanto aproveita a cena para perguntar aos demais: "O que vocês acham que está fazendo a vela do Joãozinho cair?". Observe as respostas e utilize-as para garantir uma dinâmica na compreensão dos movimentos.

Se por um lado você não fica dando ordens diretas para a galera, todos os exercícios possuem um procedimento que deve ser seguido à risca, com começo, meio e fim. Isso é previamente combinado antes de começar. Aliás, é essencial que todos compreendam e incorporem o fato que a preparação do piloto para o voo deve ser um padrão. É tarefa sua você garantir que a abertura do velame, o posicionamento da selete, a conexão com as tiras, o ato de segurar os tirantes, a observação da condição, o posicionamento do piloto e assim por diante, sejam procedimentos imutáveis que deverão acontecer sempre de forma idêntica. A grande “desculpa” é que precisamos criar sequencias de fatos previsíveis a fim de podermos dedicar energia extra àqueles imprevisíveis. O treinamento por si só não é uma brincadeira, nem um quebra-galho, ele é um ensaio, uma reprodução idêntica de um dia de voo e como tal, necessita carinho e respeito pelas mesmas regras de segurança.

A armadilha da eficiência.

Que ótima notícia quando percebemos que o uso sistemático de exercícios para o treinamento termina gerando alunos mais hábeis em um espaço de tempo menor. A divisão das funções motoras em diferentes e específicos exercícios trabalha cada função separadamente e o resultado é sempre bastante positivo do ponto de vista técnico/motor.

Entretanto é importante lembrar que crescimento técnico não implica em acúmulo de experiência e maturidade, então a velocidade do aprendizado associada a natureza estável dos parapentes modernos pode induzir o aluno a superestimar sua capacidade tornando-se mais vulnerável a trapalhadas que podem evoluir para grandes acidentes. Isso é um assunto importante que precisa ser abordado seriamente com os alunos para que compreendam que o esporte nunca deixou de ser muito perigoso e que o excesso de confiança pode facilmente conduzi-los até um cenário de tragédia. É um período delicado que exige muito cuidado e frequência para que a maturidade necessária alcance a técnica “fácil”.

Tempo de execução

O tempo para realização dos exercícios varia com as condições. Em um plano inclinado com boas condições de vento, tem-se conseguido atingir a totalidade do treinamento prático em cerca de oito aulas divididas em dois períodos de treino. Naturalmente isto é uma coisa muito particular de cada professor e poderá variar bastante. De qualquer forma, lembre-se que os exercícios aceleram o processo de assimilação, então muitas vezes você perceberá que seu curso poderá acontecer em um espaço de tempo menor tornando sua vida de instrutor, um pouco mais suave do ponto de vista físico.

Condições

A série abaixo revela melhores resultados se realizada sob condições ideais, ou seja, um plano inclinado com vento de cerca de 15km/h. Naturalmente adaptações podem ser feitas dependendo das condições disponíveis em seu cenário de treino.

1.       Controle em linha reta

Inflada alpina[3] e caminhada em linha reta com o parapente inflado.

Primeiro contato do aluno com o parapente. Treine bastante sem parapente, só para ensaiar a postura, pernas flexionadas, braços projetados para trás, peito esticado para frente, corrida sem levantar o corpo e sem dobrar os braços. Mostre como o bordo de ataque se quebra se você dobra os braços. Dê total ênfase na postura.

Dica: Faça uma pequena corrida sem parapente, respeitando a postura, os alunos devem correr uma distância equivalente a distância de uma decolagem sem vento para ver quem chega primeiro. Aceleração, postura e velocidade sendo colocados a prova. Este tipo de atividade sem equipamento é interessante para eles terem uma ideia melhor daquilo que terão de fazer em seguida. 

2.       Controle em curvas

Caminhar fazendo curvas, um ziguezague. Repita o exercício introduzindo as bandeiras ou outro objeto como pilões. Comece com duas, uma para curva e outra para gol.

Primeiro contato com batoques em curva. Chame atenção para a pressão nos batoques, explique o motivo deles terem o peso que têm.

Pensamento prático

O ar quer entrar pelos buracos do bordo de ataque ao mesmo tempo em que o ar aprisionado no interior do velame quer sair pelo mesmo buraco, existe outra saída? Então o ar aprisionado forma uma espécie de perfil virtual, que não é de pano, mas de “vento”. Acrescente o peso do piloto ao conjunto que desliza planando e aí está a rigidez de nossa asa.

O que acontece quando cessa a sustentação? A disputa termina, o ar de fora deixa de tentar entrar e o ar de dentro escoa pelos buracos. A pressão cai imediatamente, temos um estol!

Dica: Para introduzir as primeiras noções de estol, chame a atenção para o fato da vela despencar quando o batoque é exagerado e também quando o ângulo de incidência fica muito crítico. Esse é o momento em que você apresenta os alunos para o fato que existe um ângulo de incidência e a analogia com o esqui aquático ou a prancha de surf produz um entendimento extra.

3.       Anda e para

Caminhe, pare repentinamente e caminhe novamente.

Primeiro contato com batoques em frenagem.

Dica: Comece a aprofundar seus comentários sobre o funcionamento do estol. Complemente com mais informações sobre a deformação no bordo de fuga causa pela ação nos batoques.

Fale sobre a variação de pressão no velame, explique o motivo do velame possuir pressão interna.

4.       Caminhada lenta

Manter o parapente inflado sobre a cabeça sempre caminhando para debaixo dele, tentando caminhar o mais lentamente possível.

– Lembre-se de virar de frente para a vela toda vez que aborta, revendo o movimento dos tirantes por sobre a cabeça (procedimento de postura).

Dica: Introduza o conceito velocidade mínima de voo. Comece a explicar sobre o funcionamento do aerofólio e o conceito de sustentação aerodinâmica, retome a conversa sobre a prancha, explicando que além de estolar por alteração de incidência, é possível estolar por perda de velocidade.

5.       Inflada Reversa - técnica Ramponi[4]

a.       Este é o primeiro contato com a inflada reversa. O instrutor segura o lado direito do velame no chão enquanto o aluno atua no tirante esquerdo retirando a vela do chão. Assim que iniciar a subida, o aluno atua no freio neutralizando a subida. Após algumas repetições, inverta o lado. Esta técnica possui uma vantagem importantíssima, o lado que não está em estudo nunca interfere no outro lado, já que o instrutor impede que o lado neutro, digamos assim, suba inadvertidamente.

b.       Agora vamos fazer a inflada sem interferência do instrutor. Perceba como o aluno conseguirá neutralizar o lado que subir com maior facilidade sem se confundir.

6.       Inflada Reversa Induzida

Vamos induzir um lado desejado a subir primeiro. Uma vez posicionado de frente para o velame, o aluno dá um passo para a esquerda[5] esticando aquelas linhas um pouco mais. O lado esquerdo terá sempre a tendência de subir primeiro.

Retome este exercício mais tarde invertendo o lado, ou seja, o aluno segurará os tirantes com a mão esquerda, podendo então, atuar no freio do lado direito somente. Lembre-se que não queremos alunos que só dominam um lado, é preciso sempre dar ênfase ao treino bilateral, lembra daquele cara que só enrosca pra direita?

7.       Inflada reversa, vire e desvire mais de uma vez mantendo a vela sobre a cabeça.

Este exercício ajuda a desenvolver a independência do movimento de giro direita/esquerda da influência dos braços no velame.

8.       Pilões lentos

Caminhe entre os pilões fazendo curvas em baixa velocidade. Lembre-se de caminhar para o lado de fora da curva para poder criar a inclinação do velame. Chame a atenção para a inclinação do velame mostrando que ele está reproduzindo no chão, os pêndulos que acontecerão em voo.

9.       Pilões rápidos

Caminhe fazendo zigue-zague em alta velocidade. Especial atenção a postura de corrida que deverá ser com o peito projetado para frente como em uma decolagem. No contorno dos pilões, o velame sempre estará inclinado para o lado de dentro de forma que o piloto correrá por fora dos pilões.

10.       Controle reverso.

Inflada e controle reverso. Mantenha o parapente inflado caminhando e parado.

11.       Barba e cabelo

Mais estol

Aproveite para deter-se mais detalhadamente ao estudo do estol, da velocidade mínima, do arrasto induzido e do arrasto parasita. Utilize o quadro branco para esquematizar.

Este estudo de estol nº 12 pode ser experimentado em sua totalidade, com olhos fechados. Neste caso o piloto sem contato visual é obrigado a dirigir sua atenção quase que exclusivamente às forças nos batoques. Procure explorar o uso de olhos fechados, vários exercícios o permitem sem riscos durante certo período, como por exemplo, caminhar suavemente fazendo curvas.

Inflada e estabilização em controle reverso, virar, correr, parar, desvirar e controlar novamente.

12.       Inflada, estol e recuperação.

Inflada e estabilização. Em seguida, aciona-se ambos os freios provocando uma entrada de estol e liberando-os em seguida antes da vela atingir 45º, proceder a recuperação de estabilidade.

13.       Corrida de decolagem

Corrida para a decolagem alcançando velocidade máxima e abortando a decolagem imediatamente após, com e sem queda do velame.

Introduza este exercício como um grande evento, afinal estamos nos aproximando dos primeiros voos.

14.       Corrida com impulso

Corra para decolagem dando o impulso tentando voar o mais longe possível. Use os freios antes de tocar o chão. De atenção especial à postura no impulso; peito para frente e próximo do solo; alta velocidade.

15.       Subida do morro

Subida com vela inflada. Este exercício aprimora a noção de estol, a essência é caminhar para trás utilizando os freios para reduzir a velocidade. O movimento pendular permitirá acelerações e desacelerações.

16.       "La puntita"

Com pouco vento, corra com a vela inflada tentando tocar a ponta no chão invertendo os lados, ou seja, toca-se a ponta direita, corre-se para o outro lado até tocar a ponta esquerda e retoma-se o centro do velame.

Pode ser feito sem corrida quando há mais vento. O aluno tenta tocar o estábilo no chão ou em algum objeto para então trazer o velame de volta para a posição normal.

17.       Decolagem

Decole do morrinho; atenção no pouso, calculando a altura certa para usar os freios.

A decolagem no morrinho é bastante perigosa e na maior parte das vezes dispensável, especialmente se o rendimento observado nos exercícios foi satisfatório. Pode então ser utilizada como uma espécie de premiação por um dia de treinamento intenso. Evite permitir mais de duas ou três decolagens, o cansaço do final do treinamento somado a subida do morrinho e ainda o nível de adrenalina fatalmente leva a erros que podem estragar a festa. Ainda aqui, podemos utilizar as decolagens no morrinho como treino de aproximação final, estol e alvo.

18.       Buscar objetos no chão.

Para isto, o piloto precisa soltar os freios enquanto mantém a vela sobre a cabeça. Este exercício divertido obriga o piloto a utilizar de grande aceleração com as pernas em uma postura inédita.


·       Bons cozinheiros executam receitas com perfeição...

·       Ótimos cozinheiros conseguem sintetizar novas leituras de receitas consagradas...

·       Grandes cozinheiros criarão suas próprias receitas.

Como até os grandes cozinheiros começaram suas primeiras experiências a partir de uma receita que já existia, nada como conversarmos um pouco sobre o que está por trás da criação de um exercício que produza resultados satisfatórios.

Antes de qualquer coisa, é essencial que o instrutor tenha fundamentado em sua maneira de pensar que nosso esporte, assim como qualquer outro, é um universo de variáveis e situações que podem fugir ao nosso controle. O conceito “Pensar-Agir-Sentir”, que já foi discutido, procura facilitar a compreensão deste universo através de uma fórmula didática que pode ser aplicada em qualquer atividade. Sempre será mais fácil aprender algo, se envolvermos a compreensão daquilo que precisa ser feito, a ação e a observação das sensações que envolveram a atividade. Isso tudo faz parte da “tabuada”, ou seja, seu aluno irá descrever o que entendeu, executar, e depois contar o que sentiu.

Partindo deste princípio, vamos dar uma olhada no que se passa com um exercício simples, como por exemplo:

A corrida de decolagem.

O exercício proposto, assim como qualquer outro, consiste em inflar o parapente e correr em alta velocidade projetando o peito para frente enquanto acelera-se até não alcançar o chão. Feito isto, estolar o parapente e fim de exercício.

Para que o exercício funcione, precisamos primeiramente, reduzir as variáveis. Começamos eliminando as curvas e as dificuldades com a inflada (que já foram treinadas e aprendidas em exercícios anteriores). As variáveis são fatores complicadores, quanto mais, mais difícil fica prever o que irá acontecer. Então se reduzimos as variáveis, descomplicamos a aventura e o aluno pode se concentrar em seu objetivo com maior índice de êxito.

Em seguida, partimos para a determinação de um ponto chave, ou seja, algo que se não for feito de uma determinada forma, não funcionará.

Sendo assim, podemos concluir que jogar o peito para frente é uma maneira muito eficiente de, mesmo involuntariamente, garantir que o peso do piloto será transferido para a vela, aumentando sua estabilidade e consequentemente, facilitando a decolagem. É exatamente neste ponto que o aluno deve se concentrar. A corrida é uma consequência, afinal se ele não correr, cairá de peito no chão. É preciso agora imaginar maneiras de induzir o aluno a executar o ponto chave corretamente. No caso de “transferir o peso para a vela”, por exemplo, podemos pedir para que o aluno corra tentando aproximar o peito do chão o máximo que puder. Perceba que o ato de transferir o peso será uma consequência desejável daquilo que foi proposto. Esta forma de ver é muito útil, porque muitas vezes o conceito do ponto chave é abstrato ou complexo demais para ser aplicado, então buscamos algo que esteja mais próximo da aplicabilidade que o momento exige.

Eliminação das Variáveis               Determinação do Ponto Chave

Simplificando, temos de um lado, a eliminação das variáveis, e do outro, a determinação do ponto chave. Limpamos o “terreno” dos fatores que causam distração, (as variáveis); e nos concentramos no ponto que determina o sucesso do exercício, o Ponto Chave.

De posse destas informações, podemos então criar exercícios para qualquer esporte, basta termos um pouco de paciência e procurar explorar com calma onde estão as variáveis a serem eliminadas e onde está o ponto chave a ser perseguido.

Tomemos, outro esporte completamente diferente do nosso como exemplo ilustrativo, em uma Aula de Natação onde temos que lidar com o seguinte problema:

Os alunos que estão aprendendo a nadar crown possuem a tendência de forçar a cabeça para fora d’água sobrecarregando os músculos do pescoço quando precisam virar a cabeça para respirar. Isto causa cansaço reduzindo o rendimento.

Como lidar com esse problema?

Análise das variáveis a serem eliminadas: Podemos iniciar colocando o aluno de pé na piscina rasa com o corpo inclinado em posição de natação. Desta forma eliminamos as variáveis da interferência dos pés, a necessidade de propulsão e a urgência de respirar.

Determinação do ponto chave: Perceba que quando a cabeça está na posição correta, ou seja, girando longitudinalmente ao longo da coluna vertebral, a nuca tende a aproximar-se e até mesmo tocar o bíceps do braço que está à frente iniciando a remada. Bingo! Podemos então utilizar esta constante como ponto chave de um primeiro nível de exercícios.

Neste primeiro nível, simulamos duas remadas com a cabeça dentro d’água e uma com a tomada de respiração onde o aluno deverá obrigatoriamente tentar tocar a nuca com o bíceps do braço que está à frente iniciando a remada. Ao fazer esta proposta, elimino a necessidade de tentar evitar que os alunos levantem a cabeça, já que concentrados em tentar tocar a nuca no bíceps, isto se torna uma consequência inconsciente.

Chame a atenção para as sensações, é essencial que você sempre associe a compreensão daquilo que deve ser feito com o que o aluno irá sentir durante a prática, sejam músculos esticando, o toque da nuca, a temperatura da água, o som das bolhas ou o deslizar do corpo.

Uma vez dominado este exercício, passamos a introduzir novas variáveis e partimos para o segundo nível de exercícios já com natação propriamente dita.

Foi isto que fez o André Ramponi quando percebeu que segurando a ponta do velame do aluno que tentava inflar reverso, evitava que aquela ponta subisse, possibilitando ao aluno, concentrar-se em apenas um lado do parapente por vez. Ele eliminou uma variável (o outro lado), criando um “parapente com uma ponta só”. O Ponto Chave continuou sendo exclusivamente a puxada e ZAZ!, o problema estava resolvido! Agora todos os alunos aprendiam a inflar o parapente reverso com um nível muito superior de eficiência. Não é fantástico?

Agora é sua vez!

Quando você sentir que seus alunos se aproximam do maravilhoso momento de fazer seu primeiro voo, aplique uma "prova prática surpresa".

Desenhe um quadrado de cinco por cinco metros com uma saída para a decolagem. O aluno deve fazer todo o preparativo, inflar seu velame do lado de fora do quadrado, conduzi-lo inflado para dentro dele e aí permanecer pelo tempo mínimo de cerca de vinte segundos. Finalmente ele faz a corrida de decolagem e sai do quadrado em voo abortando-o logo em seguida com um estol. Pousa, vira de frente para o velame e coloca-o no chão perfeitamente pronto para uma nova decolagem. Os alunos batem palmas e atribuem notas que avaliam:

·       Interpretação da condição.

·       Análise e preparação do equipamento.

·       Análise dos aspectos psicológico e físico.

·       Postura olímpica.

·       Segurança transmitida.

·       Harmonia dos movimentos.

Seus alunos sabem que terão de passar nesta prova para poder começar a fazer os primeiros voos.

Seu aluno já passou na prova e aproxima-se o dia de começar a voar de verdade. Prepare estas lindas crianças para este dia como uma ocasião muito especial. Recomendo que ele prefira convidar parentes e amigos somente depois que ele já estiver voando. A presença de entes queridos aumenta o nível de estresse podendo estragar a festa.

É um momento interessante, já que alguns instrutores já nos apresentaram dificuldade em "controlar" os ímpetos de seus alunos. Houve até mesmo casos de alunos que "fugiram" da escola e saíram voando sem autorização. Responda você mesmo as três perguntas que seguem:

1.       Seu aluno realmente cumpriu todas as etapas do treinamento?

2.       Você teve sucesso em ministrar um treinamento baseado na colaboração recíproca, no constante feedback, em resumo, você conhece seu aluno?

3.       Seu aluno é capaz de responsabilizar-se por seus próprios passos?

Se você responder sim as três perguntas acima, será muito improvável que você tenha que confrontar problemas daquele tipo. Na maior parte das vezes, seus alunos estarão realmente prontos para fazer seu primeiro voo ainda durante a fase de treinamento. Nem por isso, o instrutor irá interromper o processo, afinal aí estará caracterizada a ansiedade do próprio instrutor, o que é um problema muito sério e que precisa ser corrigido.

Quando chega a hora de voar, é hora de reduzir o giro do motor. Você e o aluno ficam sozinhos bem de perto um do outro, falando baixo com toda calma do mundo. Peça com delicadeza para o aluno estabelecer um plano de voo que deve incluir uma ou duas mudanças de direção, local de aproximação e pouso. O aluno deve ser capaz de verbalizar em detalhes cada ato da decolagem, como por exemplo:

O Plano B

O plano B é um detalhe importantíssimo. Sempre deve existir como alternativa ao insucesso daquilo que fora planejado, isto é parte essencial da vida não só de um piloto seguro, mas da vida de qualquer pessoa.
Precisamos estar prontos para agir quando os caminhos tomam um rumo inesperado.
Sempre cobre um Plano B de seus alunos, criando variáveis como "O que você fará se perceber que não conseguirá chegar ao pouso planejado?".

 

Verbalizando

Dizer em alta voz o que irá acontecer é uma forma fantástica de reduzir o estresse de um momento. O aluno fala e escutar a própria voz descrevendo as ações que está prestes a executar. Isso produz um efeito autogarantidor de que ele realmente sabe o que está dizendo e como consequência, ele fica mais tranquilo, relaxado e confiante.

"Colocarei o velame neste ponto porque é a área mais favorável da rampa. Farei uma decolagem invertida devido as condições do vento, me afasto da decolagem e somente quando passar aquela árvore, vou me preocupar em sentar corretamente na selete. Entrarei em velocidade cruzeiro com as mãos altas, farei uma curva de 45º para a direita e seguirei até aquele laguinho para então fazer nova curva de 45º para a esquerda e me posicionar para a aproximação. Reduzirei a velocidade[6] para fazer aproximação clássica até estar na altura daquele morrinho para então aumentar novamente a velocidade e fazer a entrada final para pouso. Vou pousar naquele ponto que marcamos no chão, virar de frente para o velame, estolar e agitar meus braços avisando que tudo correu bem."

Você vai indaga-lo sobre as condições, como vento, presença de outros pilotos, fatores de risco e o Plano B. Tudo isso deve estar na ponta da língua.

Uma vez tudo pronto, você “autoriza” o procedimento de decolagem liberando o aluno ao dizer para ele que pode decolar quando desejar. Afasta-se do aluno e mantém a todos afastados. Permanece em silêncio apenas observando. Nada de gritar para correr!! Ele já passou dessa fase no morrinho, lembra-se?

Você pode eventualmente fazer alguma correção no rádio, mas nunca dirá a direção (direita, esquerda) a ser seguida, limite-se a dizer que ele está indo na "direção errada, corrigir por favor..." lembre-se que estamos ensinando nossos alunos a pensar. Se entregamos um “direita-esquerda” de bandeja, eles perdem uma oportunidade de desenvolvimento cognitivo.

A quantidade de voos que determina o final do curso é bastante variável, algumas pessoas revelam-se excepcionalmente hábeis, fique atento, mostre a elas que habilidade motora não significa acúmulo de experiência e maturidade. Um verdadeiro piloto precisa ser hábil, mas também precisa acumular experiência para poder ser visto como tal. Os parapentes modernos são muito estáveis, isto é uma coisa muito boa, mas também podem transmitir excesso de segurança fazendo o aluno acreditar que está pilotando uma aeronave sólida. Não permita que este tabu se propague. Seja honesto e claro, sem criar mitos e dogmas sobre os perigos de nosso esporte.

Com o passar do tempo, e com a prática, a experiência que seu aluno irá adquirir, será capaz de apontar detalhes que passam percebidos durante o treinamento e especialmente nos primeiros voos. Mesmo que a evolução técnica seja rápida, não há como “enfiar” experiência em um novo piloto; só o tempo e a repetição pode assumir essa tarefa. É muito importante que seu aluno saiba e compreenda isto, pois entender que a segurança transmitida pela sua habilidade, somada a estabilidade natural dos equipamentos mais modernos, pode ser bastante ilusiva e apesar de ele ter cumprido o programa do curso com louvor, ele ainda está distante de estar inteiramente seguro. Na verdade, ninguém nunca estará inteiramente seguro neste esporte, é claro, mas sem dúvida quem acumula mais horas reduz as chances de problemas no próximo voo.

Agora seu aluno está formado, ele necessita aprender muitas coisas, você está preparado para lhe oferecer um curso intermediário com exercícios de pêndulos, aceleração, desaceleração, curvas controladas, até que ele finalmente comece a enrolar suas primeiras térmicas? Então o que você está esperando? É hora de desenvolver uma série de exercícios para auxilia-lo na preparação para esta nova etapa na vida de seus alunos!

 

Elaborado por Silvio Carlos Ambrosini – Sivuca

Abril 2012

Revisado em dezembro de 2018.


A Denis Vivanco, que além de ter me apresentado ao esporte em 1990, acreditou e iniciou junto comigo, a escola Ventomania em 1995 em meio a um momento altamente complexo de minha vida.

A André Ramponi com quem dividi a maior parte de minha vida de instrutor de parapente e que trouxe inestimáveis contribuições práticas para a realização deste método.

Aos meus queridos Ventomaníacos que acreditaram em mim e em minhas propostas metodológicas, dividindo e curtindo ao máximo os lindos momentos da vida de um iniciante no voo livre de parapente.

À Luciano Miguel Martins que à frente da Associação Brasileira de Parapente, tornou possível a impressão e distribuição deste material para todos os instrutores do Brasil.


[1] O Voo Bivaque, do francês Bivouac é uma atividade onde o piloto decola de uma montanha, voa o mais longe que puder em uma rota e ao final da condição, tenta pousar em um local de onde ele poderá decolar após para passar a noite enrolado no parapente ou em uma barraca. No dia seguinte, nova decolagem e a viagem continua podendo prosseguir por vários dias, como é feito na mais incrível competição de Bivaque do mundo, o RedBull XAlps. A ideia é não utilizar transporte, apenas o parapente e as pernas. Então, quem pousa no fundo do vale, tem que subir a montanha com o parapente nas costas para poder decolar. Este tipo de atividade gerou toda uma linha de equipamentos ultra-leves destinados a estes pilotos.

[2] Os equipamentos classe 1 ocupam mais de 80% de frota mundial. São seguros e permitem anos e anos de muitas alegrias sem a menor necessidade de troca por modelos de maior performance e consequentemente, maior perigo ao voar. Encoraje seus alunos a voar a vida toda somente com velames classe 1.

[3] A inflada alpina remonta dos primórdios do nosso esporte, é muito difícil de ser praticada em condições mais ventosas e muitas vezes é simplesmente deixada de lado. Concordo com a ênfase na inflada reversa, mas é essencial ensinar a alpina também. Em algum momento seu aluno irá precisar e ela poderá funcionar muito bem em condições diferentes daquela em que você está acostumado.

[4] Durante os anos que trabalhamos juntos, André Ramponi se indignou com a dificuldade que os alunos enfrentavam para induzir o velame a levantar o lado esquerdo primeiro. O lado direito as vezes subia antes e aí o aluno não conseguia conter a subida a tempo. Então ele resolveu segurar o direito no chão. Funcionou tão bem que virou técnica oficial.

[5] Um passo para a esquerda, um passo para a direita... estamos sempre falando sob a vista de quem pilota. Não interessa para o aluno qual é a SUA esquerda, mas sim a esquerda dele. Lembre-se que nossa tarefa é trazer para o universo do aluno, a complicação do nosso, e isso inclui usar as referências dele e não as nossas.

[6] Reduzir a velocidade – aqui, o objetivo é executar todas as curvas de aproximação que tem como objetivo a simples perda de altura, na menor taxa de queda. Fazemos isto por dois motivos, o primeiro é que é nesta velocidade que o aluno permanecerá a maior parte do tempo enquanto estiver voando no lift ou em voo térmico. A segunda é que a aproximação será mais lenta, previsível e segura. A velocidade só irá aumentar no trecho final de reta para pouso.